“Uma realidade que transforma a empresa”

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No âmbito da preparação do Congresso Nacional da ACEGE 2022, a 4 e 5 de fevereiro, dedicado ao tema “Uma realidade que transforma”, propomos a cada Grupo CnE que assuma como tema das suas próximas reuniões, outubro a dezembro, os três grandes sub-temas que vamos debater no Congresso:

. Uma realidade que me transforma;

. Uma realidade que transforma as empresas;

. Uma realidade que transforma a sociedade, o País.

Com esta proposta pretendemos:

. Convidar cada um a tomar consciência do seu caminho de adesão a Cristo, e à sua missão de co-criador do mundo, assumindo o impacto transformador da sua vida, da forma como trabalha e lidera, na empresa e na sociedade. 

. Trazer para o Congresso, a riqueza da reflexão dos grupos, da reflexão daqueles que procuram tornar Cristo presente na sua realidade profissional. Queremos que este Congresso parta da vida concreta que vivemos.

As reflexões/propostas/questões resultantes de cada reunião de grupo, serão depois debatidas em três sessões intergrupos que permitirão fazer as sínteses que depois serão apresentadas no Congresso. 

Qualquer dúvida ou sugestão estamos disponíveis 91.9986683 / cristonaempresa@acege.pt

 

A Equipa de coordenação Cristo na Empresa

2º TEMA – Novembro

Uma realidade que transforma a empresa

Assim como o corpo sem alma está morto,

assim também a fé sem obras está morta

Tiago 2: 26

Objectivos reunião: 

    • Tomar consciência se procuro, e de que forma, influenciar a empresa (a minha realidade) de acordo com a proposta de Cristo;
    • Identificar situações / decisões / projectos concretos em que me envolvi (com ou sem sucesso), percebendo o que me fez avançar e o que limitou a minha acção;
  • Identificar e partilhar projectos / políticas em curso na empresa que sejam boas-práticas para a transformação de uma nova cultura empresarial baseada na Verdade, na Justiça e na promoção da dignidade de cada pessoa envolvida;

Documento de apoio:

  • A vocação do líder empresarial, ponto 64 a 84 (no final deste documento)

Proposta para esquema da Reunião:

  1. Oração inicial (Tiago 2:14-26): Leitura do texto proposto, e breve partilha

De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? 

Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: «Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? 

Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta.(…)

Não foi porventura pelas obras que Abraão, nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaac? Repara que a fé cooperava com as suas obras e que, pelas obras, a sua fé se tornou perfeita. E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe contado como justiça, e foi chamado amigo de Deus.

Vedes, pois, como o homem fica justificado pelas obras e não somente pela fé. 

Do mesmo modo, a prostituta Raab não foi ela também justificada pelas suas obras, ao receber os mensageiros e ao fazê-los sair por outro caminho? 

Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta. 

  • Proposta de pistas para partilha:
  1. Que realidades encontro na minha empresa que precisam de ser transformadas? 
  2. Quais são as “Obras de Fé”, a acção transformadora que Deus já me pediu/pede que realize na empresa? Posso apresentar uma dessas “Obras” realçando o que me fez/faz avançar, e as questões colocadas na sua execução? 
  3. Consigo identificar e partilhar duas decisões/projectos/políticas que na minha empresa/equipa foram transformadores e promotores de uma cultura empresarial baseada na Dignidade das pessoas, na Verdade e na Justiça

Como foram implementados? Quais as principais dificuldades sentidas na sua concretização? Qual o impacto transformador que tiveram? Podem ser replicadas noutras empresas como boas-práticas?

 

  1.   Conclusão reunião:
  • Procurar fazer uma breve síntese da reunião com as principais mensagens/projectos a transmitir aos restantes grupos;
    1. Identificar algum palestrante que a ACEGE devesse convidar para ser orador no Congresso sobre este tema? Alguém que tenha liderado propostas transformadoras nas empresas?
  • Escolha de 2 membros do grupo, que fiquem responsáveis por fazerem a síntese da reunião e participar com os restantes grupos no pequeno-almoço virtual no dia 24 novembro das 8.50h às 9.50h (todos os membros do grupo estão convidados a participar).
  1.     Oração final pelo assistente e bênção da empresa que recebe.

Texto de apoio

 

A VOCAÇÃO DO LÍDER EMPRESARIAL: UMA REFLEXÃO Comissão Pontifícia Justiça e Paz Pontos 64 a 84

link para documento integral

“Testemunho das Obras”: Pôr em Prática as Aspirações 

  1. A Igreja está consciente hoje mais que nunca”, escreveu S. João Paulo II, “de que a sua mensagem social encontrará credibilidade primeiro no testemunho das obras e só depois na sua coerência e lógica interna”. Estas testemunhas das obras, cuja maioria se encontra entre os fiéis leigos, “não podem ser somente os seus fruidores e executores passivos [da doutrina social da Igreja], mas constituem os protagonistas da mesma, no momento vital da sua realização (…)”. 
  2. Os líderes empresariais cristãos são homens e mulheres de ação que demonstraram um autêntico espírito empreendedor, que reconhece a responsabilidade dada por Deus para aceitarem a vocação empresarial generosa e fielmente. Estes líderes estão motivados por muito mais do que o sucesso financeiro, o interesse próprio esclarecido, ou um contrato social abstrato, como é muitas vezes prescrito pela literatura económica e pelos livros de gestão. A fé permite que os líderes empresariais cristãos contemplem um mundo muito mais amplo, um mundo no qual se está a realizar o trabalho de Deus, e onde os seus interesses e desejos individuais não são a única força motriz. Os ensinamentos da Igreja inspiram os líderes empresariais a descobrir a ação de Deus presente na Sua criação e a sua própria vocação como um chamamento a contribuírem direta e respeitosamente para esta criação. 
  3. (…) Sem estes profissionais e as organizações que os apoiam, no passado e atualmente, a tradição social católica não passaria de umas palavras inertes, em vez de uma realidade vivida. Como nos diz S. Tiago, a fé sem obras é morta (Tg 2, 17). 
  4. Infelizmente, há pessoas crentes no mundo dos negócios cujas ações falharam quanto a testemunharem e serem inspiradas pela sua fé e convicções morais. Aconteceram muitos escândalos, envolvendo líderes que usaram mal as suas posições de autoridade e comando. Sucumbiram aos pecados do orgulho, da ganância, da cobiça e outros vícios mortais. Não são somente estes casos graves que são tão penosos de observar; o que é também trágico é que há cristãos que, embora não estando envolvidos em atividades ilegais ou escandalosas, acomodaram-se ao mundo, vivendo como se Deus não existisse, dando mostras de indiferença para com as tragédias sociais e ambientais do nosso tempo. Não somente vivem no mundo, mas tornaram-se do mundo. Quando os líderes empresariais cristãos falham na vivência do Evangelho dentro das suas organizações, as suas vidas “antes escondem do que revelam o autêntico rosto de Deus e da religião”. 
  5. A fé tem implicações sociais; não é apenas uma realidade privada. A doutrina social da Igreja “faz parte essencial da mensagem cristã, porque essa doutrina propõe as suas consequências diretas na vida da sociedade e enquadra o trabalho diário e as lutas pela justiça no testemunho de Cristo Salvador”. Os princípios sociais da Igreja apelam aos líderes empresariais para agirem, e, devido ao desafiante ambiente atual, a forma como agem é mais importante do que nunca.
  6. A Caritas in Veritate, de Bento XVI, proporciona uma visão para a ação. O Papa explica que a caridade – “amor recebido e dado” – está no coração do ensinamento social da Igreja. A caridade é “a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira”. Assim, quando falamos da atuação dos líderes empresariais, isso implica tanto “receber” como “dar”. (…) 
  7. Receber: O primeiro ato do líder empresarial cristão, assim como de todos os cristãos, é o de receber; mais especificamente, receber o que Deus fez por ele ou por ela. Este ato de recetividade pode ser muito difícil, particularmente para os líderes empresariais. Como grupo, os líderes empresariais tendem a ser mais ativos do que recetivos, especialmente agora, numa economia globalizada, e sob o efeito de tecnologias de comunicação sofisticadas e da financeirização dos negócios. Contudo, sem recetividade nas suas vidas, os líderes empresariais podem ser tentados por uma espécie de complexo de super-homem. A tentação de alguns é considerarem-se como determinando e criando os seus próprios princípios, e não como recebendo-os. Os líderes empresariais podem ver-se apenas como criativos, inovadores, ativos e construtivos, mas, se negligenciarem a dimensão do receber, distorcem o seu lugar no mundo e sobrevalorizam as suas próprias realizações e trabalho. 
  8. Bento XVI, antes do seu pontificado, escreveu que a pessoa “alcança o sentido mais profundo de si mesma não pelo que faz mas pelo que aceita”, não pelo que realiza mas pelo que recebe. Na verdade, as realizações humanas, por si só, conduzem apenas a uma plenitude parcial; devemos também conhecer o poder e a graça da recetividade. Esta recusa em receber encontra-se nas nossas origens, na história da queda de Adão e Eva, quando Deus lhes ordenou para não comerem “da árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn  2, 17). A lei moral foi dada por Deus e apenas a podemos receber. Os princípios sociais da Igreja acima expostos são a reflexão da Igreja sobre esta lei moral para o mundo dos negócios. Quando os líderes empresariais acolhem a sua vocação, estão também abertos para acolherem os princípios que promovem o desenvolvimento integral daqueles que são afetados pelos negócios. 
  9. Quando os dons da vida espiritual são aceites e integrados na vida ativa, eles oferecem a graça necessária para ultrapassar a vida dividida e humanizar-nos, especialmente no nosso trabalho. A Igreja convoca os líderes empresariais cristãos a receberem os sacramentos, a aceitarem e serem inspirados pelas Escrituras, honrarem o Sabbath, orarem, contemplarem a criação, participarem no silêncio e noutras disciplinas da vida espiritual. Estas não são ações opcionais para um cristão, nem meros atos privados, separados e desligados dos negócios. (…)
  10. A dimensão divina na nossa vida diária pode ser escondida e reprimida, especialmente numa economia globalizada, altamente tecnológica e conduzida pela financeirização, e nas situações em que a Igreja é incapaz de pregar e de viver a sua mensagem social. É por isso que S. João Paulo II pede aos líderes empresariais e aos trabalhadores para desenvolverem uma espiritualidade do trabalho, permitindo-lhes conhecer qual o seu papel no propósito criador e redentor de Deus e dando-lhes a força e a virtude para viverem o Seu chamamento. O Papa Francisco explica, contudo, que “sem momentos prolongados de oração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado, abatemo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor apaga-se”. (…) 
  11. Dar: O segundo ato a que a Igreja apela aos líderes empresariais é o de dar, de um modo que responda ao que receberam. Esta doação nunca é apenas o mínimo legal; deve ser uma autêntica entrada em comunhão com os outros para fazer do mundo um lugar melhor. A doação de si próprio não pergunta “até onde deve ir, mas até onde pode ir”. A doação leva os líderes empresariais a interrogações profundas acerca da sua vocação: como é que a recetividade para com o amor de Deus anima as relações das várias partes envolvidas num negócio? Que tipo de políticas e de práticas comerciais promovem o desenvolvimento integral das pessoas, no momento presente e para as futuras gerações? 
  12. Temos visto líderes empresariais que se dão a si próprios, através dos bens e dos serviços que produzem e disponibilizam, organizando um trabalho bom e produtivo, criando riqueza sustentável e distribuindo-a com justiça. Os princípios sociais da Igreja ajudam a orientar a instituição dos negócios para um conjunto de comportamentos que fomentam o desenvolvimento integral das pessoas. Isto significa práticas e políticas que promovam a responsabilidade pessoal, a inovação, o preço justo, a remuneração justa, a conceção humana do trabalho, práticas ambientais responsáveis, e o investimento socialmente responsável (ou ético). Exige também uma aplicação prudente dos princípios sociais à contratação, despedimento, propriedade, gestão corporativa, formação profissional dos trabalhadores, formação dos líderes, relações com os fornecedores e um grande número de outras questões. 
  13. Para além destas oportunidades internas, os líderes empresariais (em paralelo com os governos e as organizações não governamentais) influenciam questões mais vastas, tais como as normas internacionais, as práticas anticorrupção, a transparência, as políticas fiscais, e as normas ambientais e laborais. Eles deveriam usar esta influência, individual e coletivamente, para promoverem a dignidade humana e o bem comum e não o mero interesse particular de um qualquer interessado. 
  14. O papel da Igreja consiste em proporcionar aos líderes empresariais princípios fundamentais e práticos a serem considerados nas suas decisões, e não prescrever específicas linhas de ação. Esta prescrição – obra de profissionais e dos seus conselheiros especializados – é, em grande medida, desenvolvida pelos leigos. O Magistério da Igreja não tem soluções técnicas para oferecer ou modelos para apresentar; contudo, a Igreja ensina que “não existe verdadeira solução para a ‘questão social’ fora do Evangelho”. (…)
  15. É por isso que uma parte importante da vocação dos líderes empresariais cristãos é a prática das virtudes, especialmente as virtudes da sabedoria e da justiça. Os líderes empresariais sábios agem virtuosamente nos seus assuntos práticos, cultivando a sabedoria nas práticas e nas políticas concretas, e não apenas em declarações de intenção abstratas. É isto o que a torna sabedoria prática: institucionalizando práticas efetivas e justas que promovem relações corretas com os interessados, e pondo em prática os princípios sociais da Igreja de formas criativas que humanizem a organização. O mundo tem necessidade da forma única de sabedoria possuída pelos líderes empresariais. (…)
  16. Desenvolver uma mente prudente exige que se reconheçam os recursos disponíveis na organização e se compreendam as suas circunstâncias únicas. A sabedoria prática requer que o dever ser dos princípios ético-sociais seja traduzido em opções realistas, alcançáveis e concretas, tendo em conta os meios e recursos disponíveis. Um ensinamento sábio e prático no que se refere ao salário condigno, por exemplo, implica sempre um salário que seja sustentável para a empresa. Se, contudo, o salário condigno não for imediatamente sustentável para a empresa, os empresários virtuosos não param aí, submetendo-se simplesmente às forças do mercado. Eles repensam a forma como estão a realizar os seus negócios e como podem alterar criativamente a sua situação, para desenvolverem relações justas com os seus trabalhadores. Isto poderá significar alterações na organização do trabalho ou no perfil das funções; poderá significar moverem-se para mercados de produtos diferentes ou repensarem as discrepâncias salariais. Se não for possível a uma empresa alcançar um salário justo, depois de tais esforços, cabe, então, aos empregadores indiretos, tais como o Estado, os sindicatos e outros atores, complementar os esforços da empresa. (…)
  17. Dar e receber expressam a complementaridade da vida ativa e contemplativa. Estas duas dimensões fundamentais da nossa vida não fazem principalmente apelo a um equilíbrio, mas a uma profunda integração, nascida da compreensão de que precisamos de Deus e que Deus fez grandes coisas por nós. Em contrapartida, Deus pede-nos para sermos as Suas mãos e pés, para continuar a Sua criação e torná-la melhor para os outros. Para o líder empresarial, isto implica criar bens que sejam verdadeiramente bons e serviços que sirvam efetivamente; organizar um trabalho em que os trabalhadores desenvolvam os seus dons e talentos; e criar riqueza sustentável que possa ser distribuída com justiça, no respeito pela nossa casa comum (Ver o Anexo para “Um Exame de Consciência para o Líder Empresarial”, que faz uma reflexão sobre estes três objetivos no dia a dia).