Um congresso com história

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Jorge Líbano Monteiro é secretário-geral da ACEGE

A história dos 60 anos da ACEGE pode confundir-se com as temáticas que tem vindo a abordar e a trabalhar junto das empresas e que constituem o mote para um debate mais alargado nos congressos que promove. Depois da afirmação da pessoa como centro da acção empresarial e da ética como factor de desenvolvimento económico, a Associação Cristã de Empresários e Gestores lança agora um novo repto: tratar o outro como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar dele
POR JORGE LÍBANO MONTEIRO*

Jorge Líbano Monteiro é secretário-geral da ACEGE

O 5º congresso nacional da ACEGE, sobre o improvável tema Amor ao próximo como critério de gestão coincide com a comemoração dos seus 60 anos de actividade (até 1998 sob a denominação UCIDT – União Católica dos Industriais e Dirigentes do Trabalho) e representa mais um passo de uma história associativa de fidelidade à sua missão inicial: a de ser um movimento de líderes empresariais, uma comunidade dinâmica capaz de fortalecer minorias criativas e actuantes, que propõe outras formas de encarar o ambiente empresarial e que visa, através da sua acção, a transformação das empresas e da sociedade.

O presente congresso, que se realiza a 1 e 2 de Junho próximo, surge como mais uma etapa dessa história e resulta de um amplo debate desenvolvido no seio da ACEGE, em diversas conferências e no âmbito dos grupos Cristo na Empresa, uma iniciativa recente, vocacionada para o enriquecimento pessoal dos associados da ACEGE e que, a partir de pequenos grupos de reflexão e partilha mensal, procura aprofundar e concretizar os valores e critérios propostos pela Doutrina Social da Igreja no contexto da vida profissional de cada um.

Desta forma, tem sido objectivo da Associação ir mais longe no entendimento dos fundamentos da actuação profissional dos líderes empresariais e da responsabilidade das suas empresas no que respeita a todos aqueles que, de forma directa ou indirecta, são envolvidos pela sua acção.

No que respeita ao 5º congresso da ACEGE, a pretensão é que este não seja meramente teórico e idealista, mas que possa ser aplicado à vida concreta nas empresas de cada associado e de todos os líderes empresariais de boa vontade.

Passar da teoria à prática tem sido, aliás, uma constante nas inúmeras actividades que a ACEGE tem vindo a desenvolver.

No seu primeiro congresso, que foi realizado em Coimbra, em 1998, a ACEGE elegeu como tema “O desenvolvimento económico e a pessoa humana”, numa afirmação da pessoa como centro da acção empresarial. E, em 2002, em Lisboa, sob o tema “A globalização, o desenvolvimento e a ética”, lançou as bases para o tema que viria a ser reforçado em 2004 com a aprovação do Código de Ética da Associação.

Este viria a ser assinado por cerca de 1000 empresários e gestores nacionais, num marcante congresso sob o tema “Ética: Factor de desenvolvimento e progresso”. Em 2006, com a presença de mais de 500 empresários mundiais da UNIAPAC, a ACEGE procurou encontrar formas de concretização da ética nas empresas, primeiro sob o tema “Potenciar líderes empresariais ao serviço do mundo moderno” e, finalmente em 2009, sob o tema “Empresários e gestores: Missão e valores perante os desafios de hoje”, numa afirmação clara da necessidade dos empresários católicos assumirem o seu papel na sociedade.

O tema do congresso deste ano –  “Amor ao próximo como critério de gestão” -, insere-se assim no dinamismo de uma reflexão de fundo da ACEGE e propõe um novo e improvável critério para a gestão, com o objectivo de transformar as empresas pela mão de líderes empresariais que afirmem com clareza as suas origens e os valores que partilham. Um novo critério que pretende tocar o coração e a humanidade dos empresários. Como referiu, em Abril de 2010, António Pinto Leite, na sua tomada de posse como presidente da Direcção Nacional da ACEGE: “A ética cristã não se confunde com seriedade. A ética cristã vai bem mais longe. A raiz da ética cristã é o amor e por isso implica mais do que ser sério, mais do que ser competente e íntegro. […] Mais: o critério evangélico de amor ao próximo é o melhor critério para uma gestão ética das empresas. Significa tratar o outro como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar dele. É assim que um responsável empresarial deve olhar para um trabalhador, é assim que deve olhar para um accionista, ou para um fornecedor ou para a comunidade que o envolve. O critério do amor ao próximo é um critério nuclear e extraordinariamente eficaz para uma gestão empresarial cristã”.

É este o desafio que os associados da ACEGE pretendem lançar para o debate no seu 5º Congresso Nacional, no dia 1 e 2 de Junho na Universidade Católica em Lisboa, assumindo, com toda a humildade, que estão somente a iniciar um debate para o qual não têm respostas definitivas, mas apenas uma enorme vontade de aprofundar a reflexão e ver qual o seu impacto nas empresas.

92% dos gestores cristãos consideram amor como critério de gestão “muito oportuno”
De acordo com o último Barómetro realizado pela ACEGE, em parceria com a RR, o jornal OJE e a NetSonda, 92,1% dos entrevistados consideram o tema “o amor ao próximo como critério de gestão “muito oportuno” , sendo que destes, 89,4% consideram-no “essencial” para o desenvolvimento da sua empresa.

No que respeita à sua aplicação, a percentagem desce ligeiramente mas, e mesmo assim, são 72,2% do universo de gestores e empresários cristãos respondentes que acreditam ser possível colocá-lo em prática nas empresas que dirigem. Por outro lado, 15,2% dos inquiridos consideram-no aplicável, mas só em algumas áreas da organização, contra apenas 1,3% que afirma ser impossível fazê-lo.

Interessante é também a forma como os respondentes interpretam o “novo” critério de gestão proposto: se para uns, este amor ao próximo pode ser expresso na relação entre colegas e chefias de forma a dar o melhor de si para benefício da empresa, outros há que consideram as temáticas da conciliação família/trabalho como uma área em que este critério é uma obrigatoriedade, a par da manutenção dos postos de trabalho ou até mesmo no pagamento pontual a fornecedores.

De sublinhar igualmente as respostas que confirmam que este critério é visto, antes de mais, como um desafio e compromisso pessoal e que, a esse nível, tem de fazer parte das relações “profissionais e pessoais” com todos os stakeholders. Ou seja, o amor como critério de gestão é algo intrínseco à cultura empresarial e deve ser encarado como seu valor, o seu principio e a sua missão.