“Quando as pessoas trabalham, não apenas fazem mais, como também se tornam mais”

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“Quando as pessoas trabalham, não apenas fazem mais, como também se tornam mais”
No âmbito da reunião do Cardeal Peter Turkson com os Grupos Cristo na Empresa, João Ribeiro da Costa, fundador da eChiron, deu a sua visão acerca do documento “A Vocação do Líder Empresarial”. Este tem vindo a ser tema de reflexão nas reuniões mensais que juntam gestores seniores e juniores para aprofundarem a sua missão cristã no interior das empresas em que trabalham
POR MÁRIA POMBO

Os grupos Cristo na Empresa (CnE) nasceram em 2008 como resultado da necessidade sentida por vários empresários e gestores, associados da ACEGE, de conciliarem a sua fé com os desafios da vida profissional. O objectivo principal era aprofundar e concretizar os valores e critérios propostos pela Doutrina Social da Igreja influenciando, de forma positiva, a vida nas empresas a que pertenciam. As reuniões são mensais e contam já com mais de duas centenas de membros.

“A Vocação do Líder Empresarial”, considerado útil e inovador, é um documento que tem vindo a ser tema de reflexão, nos encontros. João Ribeiro da Costa, fundador e administrador da eChiron e membro do Grupo fundador dos CnE, foi desafiado a partilhar, na apresentação do documento em causa, o seu testemunho sobre as principais linhas orientadoras deste documento.

“A primeira vez que li o documento ‘A Vocação do Líder Empresarial’, senti que estava a visitar uma paisagem que me era familiar, uma paisagem repleta de uma profunda paz e alegria”. Foi assim que João Ribeiro da Costa iniciou o seu testemunho perante a plateia atenta de gestores e empresários cristãos.

Sublinhando que não existem muitos documentos católicos dedicados a empreendedores, gestores e líderes empresariais, enquanto um grupo “em particular”, sendo este uma “rara e feliz excepção”, o fundador da eChiron sublinhou que o documento em causa apresenta algumas ideias já abordadas e discutidas nos CnE, abrindo, contudo, caminho a novas reflexões e visões, o que lhe confere um carácter inovador. O gestor sublinha ainda a importância do anexo “Uma lista de questões para o discernimento do líder empresarial”.

O Documento relembra logo no seu ponto 7 a passagem do Evangelho de Lucas, “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido” (Lc 12,48), aplicando-a concretamente aos empresários e gestores, deixando claro que “aos gestores foram dados muitos recursos, sendo que o Senhor lhes pede que realizem feitos extraordinários”. Deste modo os empresários, ao cumprirem a sua vocação e missão, têm um “papel especial na Criação”, o que João Ribeiro da Costa reconhece ser uma “óptima notícia”.

Este papel é clarificado no tópico 87 [do documento]: “os empreendedores, os gestores e todos os que trabalham no sector empresarial, deveriam ser encorajados a reconhecer o seu trabalho como uma autêntica vocação e a responder ao chamamento de Deus com o mesmo espírito dos seus verdadeiros discípulos”.

João Ribeiro da Costa enumerou também várias temáticas contidas no documento que se identificam com as propostas de reflexão que têm surgido no caminho dos grupos CnE, e com as quais muitos gestores e empresários são confrontados no exercício da sua actividade profissional. A título de exemplo, temas como “uma vida dividida” – que se revela, em muitos casos, uma dificuldade para os profissionais que não conseguem conciliar a fé com as exigências profissionais – ou os “discernimentos” – devendo estes ser “sábios e enraizados na realidade e na verdade” – , em articulação com a definição de “trabalho digno” – a qual implica que “a grandeza do trabalho humano não só conduza a produtos e serviços melhores, mas também ao desenvolvimento dos nossos próprios colaboradores”. Ou, por outras palavras, a noção de que “quando as pessoas trabalham, não apenas fazem mais, como também se tornam mais”. São precisamente estes princípios que fazem João Ribeiro da Costa recuar no tempo e lembrar-se do tempo valioso que os elementos dos grupos partilham nas suas reuniões, considerando-o “fundamental” na sua vida.

O fundador da eChiron reconhece igualmente o documento como uma “novidade”, na medida em que introduz áreas não debatidas ainda no interior dos CnE. A título de exemplo, Ribeiro da Costa enumera a clarificação básica de “bens e serviços úteis”, o estabelecimento de uma linha clara entre “o que os líderes católicos devem e não devem fazer”, em conjunto com “a importância de receber”para um líder empresarial, a qual está “intimamente ligada à humildade e ao espírito de pobreza, tão difíceis de instanciar no nosso ambiente particular”.

O anexo deste documento contém igualmente uma lista de questões, “numa abordagem eficiente”, que auxilia os líderes empresariais a reflectir sobre a sua vida profissional e a relação desta com a fé. Ribeiro da Costa dá ênfase à sétima questão [do anexo], sobre a partilha do caminho espiritual com outros empresários cristãos, referindo que “estes seis anos provam que a partilha do caminho com os nossos pares é uma forma sólida de descobrir a vontade de Deus”, sendo esta um grande auxílio na resolução dos “problemas práticos do nosso dia-a-dia”.

No momento em que foi iniciada a reflexão sobre este documento, recorda João Ribeiro da Costa, foi proposto um exercício ao seu grupo CnE: se lhes fosse pedido para acrescentar um contributo ao mesmo, qual seria? Para o líder da eChiron, o ponto em “falta” seria “inteiramente dedicado à importância da oração na vida de um empresário cristão”.

João Ribeiro da Costa terminou o seu testemunho citando D. Manuel Clemente, por ocasião da Abertura Anual dos grupos Cristo na Empresa: “para ter a unidade da vida, o empresário católico deve, antes de mais, manter a sua unidade com Deus” – reforçando a mensagem veiculada por Bento XVI na sua primeira encíclica.