‘Metanoein’ – mudai a vossa mentalidade!

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Há expressões que já fazem parte do nosso léxico há tanto tempo que correm o risco de não lhes darmos a importância devida. Esta talvez seja uma delas. É certo que a sua etimologia provém do grego, a avó da nossa língua portuguesa! Nesta fase da história, com a crise a galopar, talvez seja apropriado voltarmos a colocá-la no lugar essencial que ela merece no nosso léxico vivencial.

No momento presente e em face das circunstâncias negativas que assombram a nossa economia e sociedade ocidentais, da Europa e Estados Unidos, sem descurar as restantes regiões do globo, o desafio da mudança torna-se evidente. É impossível ficar indiferente ao que se está a passar. De uma maneira ou doutra estamos todos metidos nesta turbulência com final incógnito, que vai gerar de certeza a alteração de paradigmas. A cultura do querer sempre mais, a cultura do aparecer sem saber de onde, da noção de qualidade de vida assente unicamente na satisfação individual dos desejos imediatistas, do facilitismo, do parecer desvinculado do ser, está a sofrer um revés.

Será possível continuar num sistema económico assente num tipo de sistema financeiro que desmoronou, muito por cumplicidades e conveniências que aprisionaram homens e mulheres, até mesmo os com boas intenções? Será possível continuar a gerar progressos económicos para uns e regressões contínuas para outros, afastando cada vez mais ricos dos pobres e continuando a destruir a classe média?

Será possível continuar a acreditar na liberdade do pensamento individual, na iniciativa e criatividade privada, na bondade de uma economia de mercado livre e justo, com os Governos a entrarem pelas empresas e famílias adentro, com as consequências imprevisíveis do que isso trará, e com uma sociedade civil enfraquecida cada vez mais até por via dessa actuação?

Em toda esta complexa rede de causas e consequências, onde está o homem, primeira e verdadeira razão da existência do mundo, da economia, das empresas, do Estado? Não será tempo de começarmos a pôr novamente as razões da nossa essência, da nossa existência, no centro dos nossos projectos económicos, sociais e políticos? Metanoien (meta = mudar + nous = mente, pensamento) é o desafio que as empresas têm pela frente, onde mais do que a simples obtenção de lucro devem perceber qual a sua finalidade na comunidade humana.

Metanoien é o desafio que os políticos têm decisivamente de apostar, deixando para trás um sistema de partidocracia e dar corpo á verdadeira politica das ideias concretizadas em bem comum, justiça e liberdade. Não será tempo de fazer uma reforma a sério no sistema partidário, criando espaço para a complementaridade de outros sistemas de eleição?

Não é por acaso que surgem no top de vendas livros como a estratégia do Oceano Azul, entre outros, que nos orientam a atenção para outro tipo de paradigmas. Não é por acaso que aqui e ali vão surgindo vozes e movimentos como a ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores), que nos chamam a atenção para a hierarquia dos valores e para a sua importância numa economia de mercado cujos princípios fundamentais estão intimamente ligados a um rigoroso sentido ético.

Não é por acaso tudo isso porque de facto foi também com esta expressão, tantas vezes mal traduzida e compreendida, que há dois mil anos o próprio Cristo começou a sua vida pública entre os homens, e que nos testemunham os Evangelhos escritos originalmente em Grego: mudai a vossa mentalidade, a vossa maneira de pensar e acreditai.

Mais do que de lamentar ou relativizar, é tempo de mudar, é tempo de acreditar e de fazer dos valores não tanto um instrumento de julgar mas uma meta a alcançar.

Gonçalo Patrocínio

Responsável pelo núcleo do Oeste da ACEGE

 

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