Marrocos é já Ali

1636

A XVII Cimeira Ibero-americana, que há dias teve lugar em Santiago do Chile, foi notícia desde logo pela participação conjunta, em representação de Portugal, do Presidente da República e do Primeiro-Ministro. Ambos afinados pelo mesmo diapasão, tendo em conta as relações multilaterais que existem entre o nosso País e a quase totalidade dos países ibero-americanos.

 

Da Cimeira resultou a assinatura de vários documentos, sendo talvez mais relevante o que traduz benefícios práticos no domínio da Segurança Social para as comunidades estrangeiras residentes em cada um dos países signatários do acordo. Um assunto que diz muito, por exemplo, aos portugueses que vivem na Venezuela, como aos brasileiros que vivem em Portugal. Toda a gente percebe o alcance destas medidas, que até podem ser financeiramente difíceis de implementar, mas que são de uma enorme justeza, bem entendido.

A Cimeira acabaria, no entanto, por ficar marcada pelas declarações do senhor Hugo Chavez, armado agora em sucessor de El Comandante. Uma desgraça, este Chavez, que continua a encaminhar o seu povo para a maior das misérias, a exemplo do que sucedeu em Cuba, sob o pretenso igualitarismo comunista. No caso da Venezuela, a desgraça nunca será tamanha, porque o petróleo, que jorra em abundância naquele país, sempre dará para matar a fome aos milhões de seres humanos a quem calhou em sorte terem a governá-los, em determinados períodos da sua existência, cabeças cheias de ideologia marxista, mas vazias de bom senso, boa educação, cultura e respeito pelos outros.

Como bem percebemos, a irritação do Rei de Espanha que não se conteve, mandando calar o dito “ditador”, que se arroga o direito de, conforme afirmou, “falar e de responder como quiser, ali e em qualquer parte do mundo”.

A ser assim, outra atitude não pode restar a quem respeita e se sabe dar ao respeito senão a de deixar aquele senhor a falar sozinho. Que é o que já há muito tempo ele está a merecer.

Entretanto, uma outra cimeira teve lugar em Lisboa, na mesma semana e que passou quase despercebida na nossa Imprensa, não obstante a actualidade do tema e a importância que o mesmo tem para os interesses imediatos de Portugal. Referimo-nos à Conferencia Euro-Mediterrânica, que reuniu em Lisboa, vejam só, os Chefes da diplomacia dos 27 Estados membros da União Europeia, bem como os seus homólogos de Marrocos, Argélia, Egipto, Tunísia, Síria, Autoridade Palestiniana, Israel, Jordânia, Líbano, Turquia e União de Magreb Árabe.

Nesta conferência foi “explicada” a proposta do Presidente francês Nicolas Sarkozy que visa a criação de uma União do Mediterrâneo, a ser formalizada em Junho de 2008, em França (onde é que haveria de ser?).

A proposta de Nicolas Sarkozy “visa a criação de uma união política, económica e cultural, fundada nos princípios da estreita igualdade”. Segundo a Imprensa, Marrocos foi o primeiro país exterior à EU a reagir a esta proposta, tendo o rei Mohamed VI afirmado que estava pronto a explorar os meios de promover este projecto, já definido como “um pacto novo entre a Europa e a África, de que o Mediterrâneo será eixo e pivô”.

Ora aqui está um projecto que tem para Portugal, do nosso ponto de vista, tanto ou mais interesse quanto a nossa presença na EU. Tanto mais que nesta união somos, como se percebe, periféricos, ao passo que na futura União do Mediterrâneo, poderemos vir a ser pivô, como já fomos em 1415.

Assim tenhamos governantes com a ousadia e o discernimento político do Sr. Sarkozy.

Presidente da ACEGE –Vila Real

Armando Moreira

https://acege.pt/Lists/docLibraryT/Attachments/85/ArmandoMoreira.jpg