João César Neves na sessão on-line no Algarve “Esta vai ser a maior crise da nossa vida, mas não necessariamente a pior”

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César das Neves: “Esta vai ser a maior crise da nossa vida, mas não necessariamente a pior”

 

A garantia foi deixada pelo economista João César das Neves a pouco mais de meia centena de empresários e gestores cristãos algarvios e a outros, de outros pontos do país, que a eles se quiseram juntar para assistir à videoconferência promovida pelo núcleo algarvio da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores.

A iniciativa decorreu através da plataforma Zoom no âmbito do ciclo de conferências online que associação está a promover sob a temática “Construir a Esperança na Crise”.

O orador defendeu que a presente crise provocada pela pandemia da Covid-19, “em termos de impacto geográfico e económico”, será a “maior de todas”, mas poderá “não ser a pior por várias razões”. “A primeira é porque em princípio vai ser curta. A segunda é que esta crise une-nos porque temos um inimigo comum que é o vírus”, afirmou, acrescentando ainda que outra vantagem é saber-se “como lidar com esta crise”.

César das Neves evidenciou o conflito da crise sanitária com a económica, observando que a economia vive assim uma “espiral depressiva” porque “as pessoas não compram, as empresas não vendem e despedem trabalhadores que ficam sem dinheiro e, por isso, não compram”. Segundo o conferencista, este fenómeno económico é caraterizado por ser “súbito, em princípio curto e global”. “Como é que se trata uma depressão? É pôr dinheiro no bolso das pessoas”, sugeriu, acrescentando que isso significa “aguentar o rendimento”, ou seja, “adiar pagamentos tanto quanto possível”.

O economista considerou que as medidas do Governo para responder à crise têm sido, em “grande parte”, “certas”, mas criticou serem muitas para vários setores em vez de uma única, abrangente. César das Neves defendeu que melhor seria a adoção de uma “medida genérica sem condições porque qualquer condicionalismo atrasa” e “tem de se salvar a economia já”. “Estes custos, que são enormes, são muito menores do que os da espiral depressiva”, advertiu, reforçando que “o aspeto decisivo é o tempo” e que “desta crise vai ficar uma cicatriz”, ou seja, “divida”. Nesse sentido apelou a “políticas de recuperação” quando a economia começar a funcionar para diminuir “a dívida das empresas”.

Lembrando que “a ACEGE propõe viver este momento como uma construção de esperança”, salientou a importância do “realismo”. “A primeira coisa para ter esperança é ser realista. Essa é a diferença muito importante entre a esperança e o otimismo”, sustentou, considerando que “não vai correr tudo bem”, mas apesar disso é preciso ter “esperança”. “A falta de esperança é o pecado mais grave daqueles que têm fé e caridade”, lamentou, acrescentando que a esperança dos cristãos “exprime-se e nutre-se na oração” e não depende “do tamanho da tempestade”, mas “do facto de o Senhor vir a dormir à popa do barco”.

César das Neves aludiu assim a uma “frente de batalha muito importante”, “a interior”, ou seja, a “atitude” com que se vai enfrentar a presente crise. “Ninguém pode minimizar a dimensão disto e ainda ninguém sabe qual é a dimensão disto”, constatou, desafiando uma “atitude positiva”. “A fé ajuda muito a olhar para o positivo, mas mesmo sem fé isso é possível”, acrescentou.

O conferencista desafiou ainda os empresários a serem “criativos” e a abrirem-se a “novas oportunidades”, começando “a pensar o que era impensável”. Esta é para o economista uma das razões para defender que Portugal conseguirá superar a crise “muito melhor” do que os seus parceiros europeus. “Portugal é extraordinariamente criativo”, constatou, acrescentando uma outra razão de vantagem em relação aos restantes países que tem a ver com o facto de no país haver um “acordo geral de apoio ao Governo”. “Portugal está unido neste momento e é uma coisa boa”, frisou. “É muito importante que usemos isto para a unidade e eu acho que aí a Igreja tem um papel fundamental. Era muito importante a Igreja ter uma presença muito forte nesta altura”, acrescentou.

O orador considerou que “os empresários vão ser a grande «mola» de saída desta crise”, desde que se agarre a “sua principal qualidade: o empreendimento”.