“Há um grande desígnio empresarial para a ética”

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O Programa de Formação em Ética Empresarial e Desenvolvimento Sustentado “tem uma importância estratégica para a ACGD” e, graças a uma dinâmica sólida com a ACEGE, resulta já num primeiro balanço “extremamente positivo, ao nível da mobilização das empresas”. A parceria vai ser alargada a outros países de língua portuguesa, adianta, em entrevista, o presidente da ACGD, Zeferino EStevão
POR VER ANGOLA

Trata-se de “uma experiência de grande importância”, que permite à Associação Cristã de Gestores e Dirigentes (ACGD) “assumir a condução nacional deste tema essencial para o futuro de Angola e para a vida dos dirigentes e gestores angolanos”, sublinha Zeferino Estevão, num primeiro balanço ao Programa de Ética e Desenvolvimento Sustentado.

A iniciativa lançada pela Associação sediada em Luanda, em colaboração com a ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores, “não vai ficar por aqui”, garante em entrevista ao VER Angola o presidente da ACGD, adiantando que o Programa dará frutos não só no país, “como também noutros destinos”.

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Que importância estratégica tem, para a ACGD, a parceria estabelecida com a ACEGE para a implementação e desenvolvimento do Programa de Formação em Ética Empresarial e Desenvolvimento Sustentado?
Esta parceria, que nos permitiu lançar em Abril de 2012 o Programa de Formação em Ética Empresarial e Desenvolvimento Sustentado, tem uma enorme importância estratégica para a ACGD, porque nos permite assumir a condução nacional deste tema essencial para o futuro de Angola e para a vida dos dirigentes e gestores angolanos. Estamos a viver, realmente, uma experiência de grande importância para todos.

Tem sido uma verdadeira parceria de cooperação e de entreajuda na concretização das nossas missões e considero que estamos a construir com a ACEGE uma sólida e exemplar relação institucional. Nesse sentido a ACGD esteve presente no Congresso Nacional da ACEGE em Lisboa, no mês Junho, e regressámos a Portugal em Julho e em Setembro. Por outro lado, a ACEGE, nomeadamente o seu secretário-geral, Jorge Líbano Monteiro, já fez várias deslocações a Angola, nos últimos meses, para a implementação deste Programa de Formação em Ética e Desenvolvimento Sustentado.

Esta dinâmica tem já resultados práticos, não só através dos seminários e das diversas acções que temos vindo a desenvolver conjuntamente, mas também da chamada de atenção pública para este tema. Sentimo-nos muito satisfeitos por trazer a experiência de sessenta anos de trabalho da ACEGE para Angola, que nos possibilita contribuir de uma forma útil para ajudar ao desenvolvimento social do país.

Quero também sublinhar que a ACGD quer, em conjunto com a ACEGE, levar estas actividades para outros países que integram o conjunto de países de língua portuguesa: lançámos a ACGD São Tomé (onde já dispomos de uma estrutura eleita), estamos a lançar a ACGD Moçambique e a trabalhar com Cabo Verde para preparar futuros desenvolvimentos.

Portanto, não vamos ficar por aqui. Estamos a estender esta parceria ente Luanda e Lisboa a outros países de língua portuguesa, e pretendemos que a relação entre a ACEGE e a ACGD que, como referi, se tornou numa relação íntima, dê frutos não só em Angola como também noutros destinos, para onde pretendemos transportar esta experiência, naturalmente de uma forma cuidadosa.

Que primeiro balanço faz das acções realizadas em Angola, no âmbito do Programa de Formação em Ética e Desenvolvimento Sustentado?
Até ao momento, no âmbito deste Programa conjunto com o ISEP – Instituto para o Sector Empresarial Público, que conta com o apoio do Ministério da Economia, do Ministério dos Transportes e do Ministério do Trabalho, trabalhámos com cerca de dez empresas da área dos transportes e iremos concluir a formação nestas empresas até Dezembro e, de seguida, iniciar formações também noutros sectores. Em todas estas empresas houve uma formação inicial à administração e directores de primeira linha, e iremos agora apoiar na segunda fase, a elaboração dos Relatório de Sustentabilidade das empresas, e depois prosseguir para a terceira – que é a da elaboração dos Códigos de Ética.

Entretanto, a pedido das próprias empresas, vamos dar continuidade a esta acção também com novos seminários de continuidade na área da ética e recursos humanos. Portanto, penso que este momento é muito bom para nós, e sentimo-nos muito gratos e realizados por estarmos a contribuir para o desenvolvimento do nosso país.

Na sua opinião, que benefícios traz para as empresas a adopção de um Código de Ética, depois de traçada a Estratégia de Sustentabilidade, na elaboração do Relatório?
A formação para a elaboração dos Códigos de Ética é fundamental para disseminar entre as empresas a sua adopção. Há um grande desígnio para que as empresas se guiem por esse código, para benefício da sua própria actuação responsável.

“O essencial é mobilizar este Programa para que seja realmente um movimento galvanizador das acções que irão permitir um trabalho com benefícios para todos” .
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O trabalho que estamos a levar a cabo com as empresas, neste domínio da ética, inclui a preparação de manuais de boas práticas e de procedimento, e um conjunto de iniciativas que queremos realizar para que as empresas possam estar devidamente organizadas, não só do ponto de vista estrutural, mas também do ponto de vista humano.

É do homem que nasce tudo. Podemos ter muito dinheiro, bens, mas se não tivermos os homens do nosso lado, para poder organizar e gerir com dignidade, não poderemos crescer. Actualmente são para nós prioritárias as vertentes da formação, e da sensibilização das empresas e da sociedade para esta temática, e esperamos atingir bons resultados.

O essencial, de facto, é mobilizar esta obra para que seja realmente um movimento galvanizador das acções que irão permitir um trabalho com benefícios para todos, de uma forma uniforme.

Neste aspecto, o primeiro balanço é extremamente positivo, ao nível da aceitação e mobilização das empresas em torno do programa de Formação em Ética Empresarial. É promissor que não apenas os membros da Associação mas também as empresas se revelem empenhadas em percorrer esse caminho da gestão responsável. É uma prova de que este compromisso entre a ACGD e as empresas pode significar uma melhoria significativa para a sociedade, no seu todo.

No seguimento do Congresso Anual da ACEGE, dedicado ao Amor como critério de gestão, que inspiração pode a ACGD retirar para as suas actividades, e para a promoção de uma actuação pautada pela ética empresarial?
É preciso termos sempre presente os aspectos relacionados com o amor ao próximo e com a solidariedade. Este critério do amor é em si uma virtude, que deve ser integrada no nosso carisma. Portanto todos os esforços que estão a ser feitos nesse sentido de encarar o amor como um critério de gestão têm, de facto, um resultado espectacular, quer para os associados da ACEGE e demais membros da Igreja, quer para a sociedade portuguesa. E esses resultados podem ajudar o povo português, neste momento de crise, a lutar para conquistar aquilo que é necessário para ultrapassar a difícil situação do País.

A este respeito, a ACGD realizou um workshop dedicado à temática do Amor ao próximo como critério de gestão e obtivemos a confirmação de que, de facto, nada se pode fazer sem Amor. O evento, que decorreu em Luanda com a participação de várias entidades do campo académico e contou com a presença do vice-presidente da Accenture, João Pedro Tavares, foi muito relevante e bem sucedido.

Agora a nossa intenção é trabalhar para apelar a toda a gente que se auto-mobilize, no sentido deste mandamento. Claramente, o amor é necessário na vida política e social, para atingir aquilo que pretendemos, que é, como disse, o Bem Comum.

Autor: VER ANGOLA