Com São José, redescobrir a nossa empresa como uma comunidade de Pessoas

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Como gestores e empresários católicos, membros da ACEGE, pertencemos ao grupo “Cristo na Empresa”. Uma comunidade que nos ajuda a descobrir, no seguimento de Jesus, a nossa vocação à santidade como líderes empresariais, procurando servir a Igreja tornando-a presente nos trabalhos do dia a dia.
POR Pe. JOSÉ PINHEIRO

«Assim como a Sagrada Família é o modelo e inspiração para a toda a comunidade de pessoas que é a Igreja, também as comunidades “Cristo na Empresa” devem ser modelo e inspiração para a comunidade de pessoas que são as nossas empresas.»

O presente texto tem por base um conjunto de notas de apoio a uma reflexão feita por mim no encontro online dos grupos Cristo na Empresa, no dia 13 de julho de 2021.

No Tempo do Advento do ano passado, levámos com grande impacto, o presépio para as nossas empresas. Ao longo de todo o ano levamos o nosso grupo “Cristo na Empresa” para o nosso local de trabalho. Se o presépio são imagens da Sagrada Família, o grupo “Cristo na Empresa” é presença real e viva de Jesus no mundo empresarial.

Ao longo da nossa vida vamos pertencendo a várias comunidades de pessoas. Estas comunidades são lugares de conversão e ao mesmo tempo de testemunho do nosso compromisso pessoal com Jesus. A primeira e a mais estruturante de todas as comunidades é a nossa família. Mas, com o decorrer dos anos vamos pertencendo e crescendo em muitas outras comunidades de pessoas: comunidades de amigos, de colegas da faculdade, de vizinhos, de pais dos amigos dos filhos, entre muitas outras.

Como gestores e empresários católicos, membros da ACEGE, pertencemos ao grupo “Cristo na Empresa”. Uma comunidade que nos ajuda a descobrir, no seguimento de Jesus, a nossa vocação à santidade como líderes empresariais, procurando servir a Igreja tornando-a presente nos trabalhos do dia a dia.

Também as nossa empresas são comunidades. Comunidades que assentam no que é a pessoa humana, como nos ensina a doutrina social da Igreja:

«Em que cada pessoa é um fim em si, nunca um mero instrumento valorizado apenas pela sua utilidade, ou seja, um quem, não um quê; um alguém, não um algo. Esta dignidade é possuída simplesmente em virtude de se ser humano. Nunca é uma conquista, nem uma dádiva de qualquer autoridade humana; nem pode ser perdida, confiscada ou simplesmente retirada. Todos os seres humanos, independentemente de propriedades e circunstâncias individuais, gozam desta dignidade concedida por Deus.

Em que cada um de nós tem o dever de evitar ações que impeçam o desenvolvimento dos outros e, tanto quanto possível, o dever de promover esse desenvolvimento, uma vez que todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos.» A Vocação do Líder Empresarial, Conselho Pontifício Justiça e Paz, Paulus, 2013.

Com um olhar da fé para a Sagrada Família (presépio) e para o nosso grupo “Cristo na Empresa”, convido-vos a fazer a seguinte comparação: assim como a Sagrada Família é o modelo e inspiração para a toda a comunidade de pessoas que é a Igreja, também as comunidades “Cristo na Empresa” devem ser modelo e inspiração para a comunidade de pessoas que são as nossas empresas.

Agora proponho que, a partir da figura de São José, olhemos com verdade e humildade para a nossa missão (e prestação) como empresários e gestores membros do grupo “Cristo na Empresa” tendo como referência as sete caraterísticas do pai adotivo de Jesus apontadas pelo Papa Francisco na Carta Apostólica Patris Corde (Coração de Pai), publicada no passado dia 8 de dezembro, nos 150 anos da declaração de São José como Patrono Universal da Igreja.

Pai amado – A paternidade de São José exprime-se, muito concretamente, em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício. Usando da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida e do seu trabalho.

Tal como o cuidado de São José possibilitou que Jesus cumprisse a sua missão, também a nossa autoridade brota da nossa capacidade de fazermos da nossa vida um serviço, um sacrifício, que devemos transformar em dom de vida para os outros. Ou seja, permitir que as pessoas que connosco trabalham possam cumprir a sua própria vocação, que possam ser fecundas.

Pai na ternura – Jesus viu a ternura de Deus em José. Ensinou-o a andar segurando-o pela mão. Como qualquer pai, cuidou e amparou Jesus nos momentos de maior fragilidade e dificuldade, nas diferentes crises e desafios próprios do crescimento de qualquer ser humano.

A história da salvação realiza-se através das nossas fraquezas «na esperança para além do que se possa esperar» (Rm 4,18).

Como é que lidamos com as nossas fraquezas? Como é que lidamos com as fraquezas e limites daqueles com quem trabalhamos? Como é que ensinamos os outros a andar? Será que os seguramos pela mão? Ou esperamos que caíam vítimas da sua incompetência?

Muitas vezes pensamos que Deus conta apenas com a nossa parte boa e vitoriosa, quando, na verdade, a maior parte dos seus desígnios se cumpre através e apesar da nossa fraqueza. Se esta é a perspetiva da economia da salvação, devemos aprender a aceitar, com profunda ternura a nossa fraqueza.

Pai na obediência – José sente uma angústia imensa com a gravidez incompreensível de Maria: mas não quer difamá-la, e decide deixá-la secretamente (Mt 1,19).

No primeiro sonho, o anjo ajuda-o a resolver o seu grave dilema: «Não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados» (Mt 1, 2021). A sua resposta foi imediata: «Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo» (Mt 1, 24). Com a obediência, José superou o seu drama e salvou Maria.

Como é que aceitamos e vivemos a obediência aos ensinamentos de Jesus, à Doutrina Social da Igreja ou mesmo à nossa consciência?

Pai no acolhimento – José acolhe Maria, sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do Anjo. A vida espiritual que José nos mostra não é um caminho que explica, mas um caminho que acolhe.

O acolhimento é um modo pelo qual se manifesta, na nossa vida, o dom da fortaleza que nos vem do Espírito Santo. Só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões. É necessário deixar de lado a ira e a desilusão para dar lugar àquilo que não escolhemos e, todavia, existe. Acolher a vida desta maneira introduz-nos num significado oculto, lembra-nos o Papa Francisco.

O acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis, porque Deus escolhe o que é frágil. O líder é aquele que é capaz de ajudar o outro a crescer, a desenvolver novas e desconhecidas competências.

Pai com coragem criativa – Esta coragem vem ao de cima sobretudo quando se encontram dificuldades. Tantas vezes são as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter. Deus não intervém de forma direta na história, mas através de acontecimentos e de pessoas.

José é o homem por meio de quem Deus cuida dos primórdios da história da redenção. Ou seja, o Céu intervém, confiando na coragem criativa deste homem que, tendo chegado a Belém e não encontrando alojamento onde Maria possa dar à luz, arranja um estábulo e prepara-o de modo a tornar-se o lugar mais acolhedor possível para o Filho de Deus, que vem ao mundo.

Se, em determinadas situações, parece que Deus não nos ajuda, isso não significa que nos tenha abandonado, mas que confia em nós com aquilo que podemos projetar, inventar e encontrar.

De José, devemos aprender o mesmo cuidado e responsabilidade: amar com coragem criativa. Capaz de transformar as crises em oportunidades para crescer na santidade, ou seja, no amor ao próximo.

Pai trabalhador – Um aspeto que carateriza São José – e tem sido evidenciado desde os dias da primeira encíclica social, a Rerum Novarum de Leão XIII – é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.

O trabalho torna-se participação na própria obra de salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família, como nos ensina a Doutrina Social da Igreja.

A competência e o empenho no nosso trabalho são formas de testemunhar Jesus ressuscitado junto daqueles com quem trabalhamos. Garantir emprego e uma remuneração justa dignifica o trabalho e trabalhador.

Pai na sombra – Não se nasce pai, torna-se tal… E não se torna pai, apenas porque se colocou no mundo um filho, mas porque se cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outrem, em certo sentido exercita a paternidade a seu respeito.

A paternidade de São José é casta. Pois a castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiro quando é casto. O amor que quer possuir acaba sempre por se tornar perigoso: prende sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive de errar e opor-se a Ele.

São José é uma presença discreta, mas eficaz na vida de Jesus e na história da nossa salvação. Também nós somos chamados a testemunhar este amor que não se impõe, que respeita, que dá espaço, que quer o bem do outro, que ama à maneira de Jesus.

Que esta reflexão, inspirada no modelo de São José nos ajude a redescobrir e a valorizar a nossa pertença ao grupo “Cristo na Empresa”, e a crescermos como líderes cristãos pelo caminho do amor, da ternura, da obediência, do acolhimento, da coragem criativa, do trabalho e da presença discreta, junto das nossas comunidades empresariais.

Por último, o Papa Francisco, oferece-nos esta oração a São José, que a façamos também nossa.

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amen.