Caritas in Veritate – Carta Encíclica de Bento XVI

1654
Em dia de mais inscrições de sócios para a nossa ACEGE (petit à petit l´oiseaux fait son nid), de parabéns pelo culminar dos mil associados, iniciou-se um novo Ciclo de Conferências ACEGE 2009 / 2010 “Líderes Empresariais Cristãos e Portugal” e nada melhor que uma grande personalidade, dando o arranque sem dúvida com um tema actualíssimo:

O Senhor D. Carlos Azevedo, excelente comunicador, e reconfirmando o seu saber, deliciou com as suas palavras os Empresários e Gestores presentes, propondo que esta Encíclica seja lida e relida, pois é um verdadeiro instrumento de leitura das realidades do presente. Realizada em tempos depressivos, num animar de receios, com Princípios Éticos e numa convicção de esperança. Da Justiça ao Campo Social até à Economia, como que um verdadeiro Guia de Princípios e de aposta no juízo e de lucidez orientadora da Caridade no Terreno. Um chamamento especial para o capítulo III / 34, princípio e o capítulo IV / 52, como um final.

Trata-se efectivamente de um texto extenso e completo, excepcionalmente abrangente, tendo várias equipas de especialistas contribuído para a sua elaboração. Documento não ideológico, sociológico ou económico, mas mais de uma Verdadeira Acção para a Ética.

 

Só cumprindo uma “Missão de Verdade” a sociedade pode, ou não, respeitar, acrescida de um poder dar-se ao respeito.

Esta Encíclica afirma-se pela sua vocação pró humana, defendendo a humanização, afirmou o Senhor D. Carlos Azevedo no início da sua belíssima palestra.

 

Olhando para trás nos últimos 40 anos esta Encíclica é a primeira grande carta, fazendo uma abordagem ao tema do Desenvolvimento, de forma clara, para um desenvolvimento a favorecer A Humanização mundial vs. Os Egoísmos e a Lei do mais forte.

 

Não existem soluções únicas mas, antes pelo contrário, só com a participação de homens e mulheres a concretizar no terreno o verdadeiro desenvolvimento a nível global.

Estamos em presença de um novo documento, um verdadeiro projecto para a Humanidade com centralidade na Pessoa Humana. Numa relação de Caridade e de Verdade (Pessoal e Mundial).

Esta Encíclica é como que uma tapeçaria, acrescenta D. Carlos Azevedo, com uma construção de dois fios: O fio da Verdade e o fio da Caridade.

 

De forma algo dura, mas real, afirma que o Humanismo fechado só a Deus é Inumano, já que impede o desenvolvimento. A Encíclica defende e marca as macro relações, onde não deve existir caridade com desvios, (vulgo, caridadezinha), sem Ética, num esvaziamento orientado pela negativa, caindo-se numa relação ímpia:

Sem Verdade

Sem Confiança

Sem Amor

Outro tema da máxima importância nos nossos dias diz respeito ao Trabalho, como que o drama das nossas gerações e infelizmente de previsão duradoira, sendo o seu acesso uma Obrigação, ou os custos humanos serão sempre custos económicos. Ou disfunções económicas a conflituar com os custos humanos.

Que progresso é este?

Como afirma o Papa Bento XVI, III / 34, o mundo essencial onde a economia é usada de forma destrutiva, a favor do essencial …Primeiro, a convicção de ser auto-suficiente e de conseguir eliminar o mal presente na história apenas com a própria acção induziu o homem a identificar a felicidade e a salvação com formas imanentes de bem-estar material e de acção social… num constante abuso dos elementos económicos e de forma instrumental.

O instrumento é indispensável mas não como um fim. Regulação do mercado, sim, mas não para fortalecer o débito da solidariedade!

 

Sobre o Bem Comum, é afirmado que a Classe Política tem a obrigação de olhar como que para um novo paradigma de convergências entre as Acções Económicas e as Acções Políticas.

A Economia a ter o papel de criar a Riqueza (Ética), num correcto funcionamento da ética amiga das pessoas, deixando aos executores da Política a responsabilidade da sua Distribuição, num funcionamento Éticamente Estruturado. E não como vivemos, numa sociedade delineada exactamente ao contrário.

Sobre a dimensão Empresarial e a Responsabilidade Social das Empresas D. Carlos Azevedo afirmou não se deve orientar o investimento sómente para a Técnica, mas sempre com o pensamento no factor Social e Humano. O Ser Humano está feito para o Dom (gratuidade). A Responsabilidade da Empresa deve basear-se em Princípios diferentes do Lucro, não renunciando à criação de Mais-valias (Riqueza). 

A Ética e a Ecologia foram igualmente tidos em análise como de Grande Impacto Global, aliás levantado pelos participantes como tema na discussão final lado a lado com a Verdade, e onde pela primeira vez se vêem abordadas estas questões em Encíclicas sociais. De referir o facto de os interesses instalados terem no passado, e de forma organizada e interessada, tratado tão mal quem se interessou pelos assuntos do Ambiente, chegando ao ponto de os ridicularizar, sendo que hoje e para futuro é de abordagem fundamental.

Continuando a sua brilhante alocução o Senhor D. Carlos Azevedo regressou à Técnica para chamar a atenção para o facto da mesma manipular a Natureza. A chave tem que ser a Inteligência Técnica (o Pensar), usada no sentido Global.

 

No mundo actual complexo, onde Os fascínios e As maldades imperam, existe a tendência para Demonizar. É necessário um ALERTA contra a destruição dos meios.

O Mal não está nos Meios mas na Má utilização dos mesmos (Maldade).

Só a Verdade é recomendável, e não o constante propagandear de Mentiras.

Veja-se o exemplo negativo dos Políticos que em todos os Países não dizem a verdade com o objectivo único de ganhar eleições e da conquista do poder.

O Cristão sabe bem o que é Caridade mas será que igualmente sabe o que é a Verdade?

Vivemos num mundo de crises, de falta de educação e de princípios, onde o Sim e o Não convivem lado a lado, sem discussão, num mundo das Engenharias Financeiras ou de Estatísticas, dirigidas a economias sem Verdade e com os resultados à vista de todos; ou de uma confiança na banca transformada em desconfiança pela falta da Verdade!

A Verdade é essencial, seja na Economia, no Ambiente ou no Desenvolvimento.

No mundo actual não existe discussão, cada qual sente-se bem com as suas ideias aceitando de forma passiva as dos outros.

Como é que uma sociedade retratada na modernidade da saudação de um “Tudo Bem?”, á qual se ouve responder “Tudo Óptimo”, quando a resposta correcta só pode ser: Tudo Bem? Não, não está tudo bem! Não, porque efectivamente vivemos num mundo onde nem tudo está bem e pede urgência nas reformas.

Texto de Esperança e de longo alcance, “ Caritas in Veritate “ – Carta Encíclica de Bento XVI, onde não se fala de Capitalismo, é como que um chamamento à Vida Real.

O Exemplo do Papa Bento XVI, que diz sempre o que tem para se dizer, numa vantagem de quem pode e deseja ser fiel aos Princípios.

O Obrigado da ACEGE – Núcleo do Porto por esta brilhante palestra com que o Senhor D. Carlos Azevedo nos brindou, contribuindo de forma elevada para um melhor entendimento da nova Encíclica, verdadeiro projecto para a Humanidade, para os Governos, para as Empresas, para as Famílias e para a Pessoa.

 

Após interessado diálogo, o Engº Rui Barbosa, Presidente do Núcleo do Porto confirmou a periodicidade dos almoços / debate bimestrais, intervalados com um almoço da direcção na Universidade Católica e aberto a sócios.  

ACEGE – Núcleo do Porto

David Forrester Zamith