Porque deve ser recordado o contributo da ACEGE

Este é o momento de balanço sobre o ano que agora terminou, e de se definirem as intenções para o ano que agora se inicia. O calendário repete-se. Se formos rigorosos, provavelmente, as nossas intenções não diferem muito dos anos anteriores. Contudo, este ano talvez sejam diferentes e serão com certeza influenciadas por tempos que estamos a viver, com elevado impacto mundial e regional POR CRISTINA VAZ TOMÉ

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Ninguém tem memória de uma pandemia como a que, espero, acabámos de sair; de uma crise de acesso a matérias-primas, energia e alimentos; do actual contexto de inflação e, acima de tudo, de uma guerra na Europa, que resulta da ocupação de territórios da Ucrânia pela Rússia. Todos com impacto grande nas nossas vidas e na vida das nossas organizações

Mas, não sendo eu economista nem tendo pretensões para antecipar o que podem ser as perspectivas para 2023, atrevo-me, enquanto gestora, a recordar e enfatizar um conjunto de iniciativas que vários membros da ACEGE identificaram como sendo urgentes adoptar na gestão das suas empresas e no seu comportamento como gestores.

As iniciativas que refiro acima resultam do trabalho desenvolvido pelos diferentes grupos Cristo na Empresa durante o primeiro semestre de 2022. Foram apresentados no Congresso da ACEGE a 6 e 7 de Maio do mesmo ano e, a meu ver, devem servir de base ao compromisso que cada um de nós, enquanto gestores, deve ter presente na sua vida profissional e pessoal.

Recordemos então quais são esses caminhos que me atrevo a converter em intenções para 2023:

Primeira: Liderança pelo exemplo, nas pequenas e grandes coisas, no dia-a-dia:

  • Ser fiel ao que está ao nosso alcance, nas nossas mãos;
  • Termos capacidade de arriscar e intervir, não sermos indiferentes à realidade.

SegundaPromover o trabalho em rede

  • Se actuarmos em conjunto, e de forma mais activa, teremos todas as condições para ultrapassar os desafios que se nos colocam, não só ao nível das nossas empresas como das instituições empresariais a que estamos ligados, como por exemplo a ACEGE.

Terceira: Sermos mais activos individualmente e no colectivo

  • Convocarmo-nos para maior intervenção pessoal e política, em partidos, em associações ou outras instituições com contributo para a sociedade civil, impelirmo-nos a abraçar causas com impacto na Sociedade.

Quarta: Incorporar nas políticas das empresas onde estamos, temas que possam corporizar caminhos futuros de novas lideranças em áreas como: 

  • O apoio à natalidade;
  • A valorização das famílias;
  • O acolhimento e integração profissional de migrantes;
  • A aposta, na chamada, “Silver Economy” que, em muitos casos da nossa sociedade, constituiu e é o grande suporte financeiro aos mais jovens.

Quinta. Procurar materializar a economia do bem comum, promovendo:

  • A dignidade da pessoa;
  • A solidariedade;
  • A subsidiariedade, a defesa da Casa Comum, a ecologia integral, que o Papa Francisco defende e que promove no âmbito da “Economia de Francisco”:

“O Senhor Deus colocou o homem no jardim (…), para nele trabalhar e para o guardar.” (Génesis, 2,15)

SextaPromover a cultura do encontro

  • É inclusiva e integra todas as dimensões da nossa Vida. Deixar os “ou” para encontrar os “e”, que promovem a unidade de vida e a unidade de pensamento.

Ao revisitar o livro “Conversas em Altos Voos” de Aura Miguel, de 2017, a dada altura a jornalista pergunta ao Santo Padre:

Santidade, na onda individualista em que vivemos parece um capricho exigir direitos, sempre mais direitos separados da busca da verdade. Crê que isto é também um problema na maneira de viver a fé?”

“Pode ser… sempre com mais exigências, sem generosidade de dar. Ou seja, é exigir só os meus direitos e não os meus deveres perante a sociedade, não é? Eu creio que direitos e deveres caminham juntos. Senão, isso cria a educação do espelho – porque a educação do espelho é o narcisismo e hoje estamos numa civilização narcisista”.

“E como se vence, como se combate?”

“Com educação. Por exemplo, com direitos e deveres com a educação dos riscos razoáveis, procurando metas, avançando e não ficando quieto ou a olhar ao espelho… Não vá acontecer-nos como aconteceu a Narciso que, de tanto se olhar espelho na água e se achar tão lindo, tão lindo, “blup” afogou-se …” 

Não queremos que nos aconteça o mesmo. As empresas e o Estado são entidades abstractas, só existem porque existem pessoas. E é esta a urgência e o nosso papel enquanto Cristãos: a de não nos deixarmos afogar na vaidade do nosso sucesso!