No Abbiate Paura

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Foi com um “compromisso consciente” que assinei o “Código de Ética”, tendo, desde logo, ficado com a plena noção de que o código me poderia vir a ajudar na minha vida pessoal e profissional, quer como empreendedor quer como gestor de empresas. Foi, para mim, claro, que estava a assumir uma “responsabilidade individual” na prossecução dos princípios do código, o que implicava recusar participar na conhecida “irresponsabilidade colectiva”, que adormece as consciências e que tudo abriga.

“NO ABBIATE PAURA”                                  

Como associado da ACEGE, recebi um comunicado, a referir: “ no próximo dia 4 de Março de 2006, o Presidente da ACEGE, João Alberto Pinto Basto, vai entregar nas mãos de Sua Santidade o Papa Bento XVI, o Código de Ética dos empresários e gestores e cópia das assinaturas de todos aqueles que se comprometeram com o texto”

Reli este comunicado e “retrocedi no tempo”: desde Maio de 2004 tinha acompanhado todas as iniciativas públicas que a ACEGE havia levado a cabo junto dos seus associados, para a discussão e elaboração do texto final do “Código de Ética da ACEGE”, assinado por mais de 200 empresários e gestores a 20 de Outubro de 2005.

Foi com um “compromisso consciente” que assinei o “Código de Ética”, tendo, desde logo, ficado com a plena noção de que o código me poderia vir a ajudar na minha vida pessoal e profissional, quer como empreendedor quer como gestor de empresas. Foi, para mim, claro, que estava a assumir uma “responsabilidade individual” na prossecução dos princípios do código, o que implicava recusar participar na conhecida “irresponsabilidade colectiva”, que adormece as consciências e que tudo abriga.

Feita esta reflexão, e sabendo que o “Código de Ética” iria ser entregue a Sua Santidade o Papa Bento XVI, com cópia das assinaturas de todos aqueles que se comprometeram com o texto, já mais de 400 pessoas, voltei a ler o “Código de Ética” para relembrar alguns dos principais compromissos assumidos, como sejam:

– “o Homem é o fundamento, o sujeito e o fim de todas as instituições em que se expressa a vida social; neste sentido, os empresários e gestores, através das suas atitudes, comportamentos e acções têm uma enorme responsabilidade, não só no desenvolvimento das empresas, mas sobretudo na vida dos seus colaboradores, stakeholders e na sociedade, partilhando critérios e valores, que afirmam, defendem e não renegam por nenhuma razão”;

– …”são as pessoas que são éticas, sendo que a ética empresarial significa confrontar permanentemente a procura de uma maior rentabilidade com a defesa do homem, procurando a excelência no trabalho quotidiano e na acção empresarial como um imperativo ético, visando a realização plena de todos os homens e do homem, dando à empresa uma orientação estratégica clara, informando os colaboradores de forma adequada e honesta sobre a vida da empresa, respeitando e promovendo o seu projecto de vida e procurando que a Missão da empresa seja clara e prosseguida eficazmente, evitando todas as formas de abuso de poder”;

– finalmente , e na defesa do compromisso ético empresarial, o “Código de Ética” termina a afirmar que “os empresários e gestores que aderem aos valores e princípios contidos neste código comprometem-se a defendê-los, como obrigação de consciência, na sua actividade profissional e pessoal”.

Feita esta “reflexão”, lembrei-me de uma frase que o Papa João Paulo II não se cansou de repetir, “No Abbiate Paura”*, e assim decidi “peregrinar” com a ACEGE a Roma e ao Vaticano, para participar na audiência concedida pelo Papa Bento XVI à UCID (União Cristã dos empresários e Dirigentes Italianos), para a qual a ACEGE e a UNIAPAC foram convidadas.

Foi uma “peregrinação” inesquecível e que todos podem ler nos magníficos artigos publicados pelos meus “amigos peregrinos”, Zita Seabra, José Luís Nogueira de Brito e Jorge Líbano Monteiro, apenas lhes juntando algumas “notas pessoais”:

1) O extraordinário grupo de peregrinos portugueses, com idades entre os “7 e os 77”, assim como o permanente acompanhamento do Padre Mário Rui, Assistente Nacional da ACEGE, e a fantástica “visita guiada” ao Vaticano, que nos foi feita pelo Monsenhor A. Pinto Cardoso, com destaque para a Capela Sistina, onde nos explicou que, no “Juízo Final”, de Miguel Ângelo, na parede do Altar, se pensa estarem pintados portugueses da época dos Descobrimentos, a “salvar do inferno” um negro e um indiano!

2) A extraordinária Cidade Eterna, Roma, onde, entre inúmeras Catedrais e Igrejas, se encontram pequenos “Oratórios”, como o “Oratório di Santa Maria in Trívio (il Tritone), em que se pode estar mais de uma hora sentado, em “silêncio absoluto”, com a sensação, quando saímos, que só se haviam passado dez minutos! Foi assim que “perdi” a missa na Igreja de Santo António dos Portugueses, com grande pena minha!

3) A visita ao túmulo do Papa João Paulo II que, na sua simplicidade, “branca”, nos parece repetir, incessantemente, “No Abbiate Paura”*!

4) A extraordinária “ternura” do Papa Bento XVI para com as crianças, a quem fazia festas e benzia enquanto caminhava para a audiência, com particular destaque para o abraço que uma menina lhe deu, “agarrando-se-lhe ao pescoço” e comovendo mais de oito mil empresários e gestores com aquele gesto simples de amor, de quem acolhe, de braços abertos, quem “não tem medo de se entregar”;

5) As palavra do Papa Bento XVI para com os empresários e gestores presentes, alertando-os para as suas responsabilidades, enquanto uma “minoria criativa”, que nunca deve deixar de praticar a justiça e a caridade nas relações empresariais;

6) O “simbolismo” da entrega do “Código de Ética” ao Papa Bento XVI pelo Presidente da ACEGE, João Alberto Pinto Basto, em nome dos associados da ACEGE, e os cumprimentos pessoais deste e do Vice-presidente da ACEGE, Bruno Bobone, ao Santo Padre, também em representação dos associados da ACEGE, o que nos fez “sentir”, ainda mais, a responsabilidade do compromisso assumido;

7) O Angelus, na Praça de S. Pedro, repleta de homens, mulheres e crianças, de todas as nacionalidades e com uma alegria contagiante!

Findo o Angelus, tive uma longa conversa com o secretário geral da ACEGE, Jorge Líbano Monteiro, enquanto três dos seus filhos, que o tinham acompanhado, brincavam alegremente na Praça de S. Pedro. Falamos, então, da extraordinária força da mensagem da Igreja aos empresários e gestores e da crescente adesão destes à necessidade de fazerem uma gestão com “Valores”, alicerçada numa forte “ética empresarial”, com respeito pela dignidade humana, lembrando-nos que a Doutrina Social da Igreja”compreende o recto agir na actividade económica e na vida social e política”.

Como referiu o Papa Bento XVI, na audiência aos empresários católicos, “ o cristão é chamado a buscar sempre a justiça, mas tem em si a dinâmica do amor, que vai além da própria justiça”.

Nuno Brito (associado da ACEGE)