Dois passos à frente

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É, de facto, importante passarmos a consumir menos, passarmos a consumir produtos portugueses, darmos um passo atrás no nosso estilo de vida. Mas sempre com o objectivo de procurar produzir mais, promover iniciativas que levem à criação de riqueza e à criação de emprego, de forma sustentável e com respeito dos princípios éticos, com o objectivo de, a prazo, podermos ambicionar dar os dois passos em frente que compensem aquele que já recuamos!
POR MANUEL CARY

Os resultados das últimas eleições vieram confirmar os desejos de mudança que a generalidade dos portugueses tinha. Felizmente emergiu um parlamento com capacidade para formar um governo de apoio maioritário nesse mesmo parlamento, e com a vantagem de se governar por um programa que, tendo sido em grande medida imposto de fora, obteve o apoio explicito do agora segundo partido mais votado. Assim, temos um governo com apoio maioritário no parlamento, e uma maioria alargada capaz de fazer as adaptações necessárias ao nosso quadro jurídico e constitucional.

Os primeiros sinais desta nova maioria parlamentar foram muito positivos, o governo foi formado em pouco tempo, e é constituído por um grupo de pessoas bastante competentes, e que parecem ver a política e o exercício de funções governativas com espirito de serviço, e não como forma de evoluir na carreira … Da mesma forma, os primeiros tempos de acção governativa têm-se caracterizado por uma elevado grau de acerto nas poucas decisões implementadas, e por uma forma diferente de lidar com os assuntos e com os inúmeros problemas. Impera a calma, a análise fria e profissional, mudam-se os hábitos, passam-se para a população as mensagens certas.

E a verdade é que este tipo de atitude paga. É surpreendente mas revelador ver o nível de aceitação que obteve junto da generalidade da população a taxa extraordinária sobre o subsídio de Natal. Revela simultaneamente um aumento de confiança nos políticos, mas acima de tudo um tomar de consciência da situação muito difícil em que o país se encontra. E esse é o grande sinal de mudança, fruto também da alteração do discurso dos políticos, é que a generalidade das pessoas tomou finalmente consciência da situação difícil em que todos nos encontramos. E já se sabe que o primeiro passo para combater um problema é reconhecer que ele existe…

O primeiro mas, em definitivo, não o último. Agora que já reconhecemos que temos problemas temos que os atacar de forma decisiva e decidida. E neste campo, apesar de se esperar com interesse o início da actuação do novo Ministro da Economia temos, acima de tudo, que contar connosco próprios, e com as pequenas e grandes iniciativas de cada um. Mesmo que algumas pareçam pouco eficazes, a verdade é que todas apontam no sentido do combate à nossa situação actual, e de esforço para sair dela. É, de facto, importante passarmos a consumir menos, passarmos a consumir produtos portugueses, darmos um passo atrás no nosso estilo de vida. Mas sempre com o objectivo de procurar produzir mais, promover iniciativas que levem à criação de riqueza e à criação de emprego, de forma sustentável e com respeito dos princípios éticos, com o objectivo de a prazo podermos ambicionar a dar os dois passos em frente que compensem aquele que já recuamos!