A “ética dos máximos”

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O essencial da ética tem a ver com uma noção positiva, tem a ver com aquilo que normalmente se costuma chamar uma ética das virtudes ou de excelência. Uma ética de “máximos” a que o povo se costuma indirectamente referir quando, por contraposição, diz que a “moral está em baixo”. Uma ética que nos permite atingir metas que de outra maneira ficariam distantes

POR JOSÉ MANUEL MOREIRA

José Manuel Moreira é professor universitário e um especialista em questões relacionadas com Ética. É autor de diversas publicações e papers e, nomeadamente, um defensor “precoce” da ética enquanto dimensão imprescindível na estratégia das organizações. De forma sucinta, segue-se a sua visão sobre “o que é a ética”

·          A ética é uma ciência prática: não se estuda para saber mais, mas para actuar. É uma ciência normativa: não diz como actua a maioria – isso seria sociologia -, mas como deveríamos actuar. De realçar igualmente que, hoje em dia, um dos perigos com que nos deparamos está relacionado com confusão entre valores sociais e valores éticos.

·          A ética é uma ciência teórica de carácter normativo, como a lógica, ainda que esta se dirija à razão e a ética à vontade. A ética diz-nos o que se há-de fazer, teoricamente, mas, uma vez conhecido, há que saber e querer aplicar esse conhecimento teórico, esse critério geral, a casos concretos e, muita vezes, complexos. É este, precisamente, o trabalho da prudência e da fortaleza.

·          A ética implica vontade. Por outras palavras, a ética implica vontade e coragem para bem fazer.

·          Não se deve confundir, por isso, Moral com Moralidade. O nosso grande problema não é tanto um problema de moral – aliás, nunca houve tantos livros de moral e tanta gente a dar aulas de moral – é mais um problema de moralidade. Daí que na relação próxima entre virtude moral e costume se torne evidente o conceito de “carácter”.

·          A ética nem sempre coincide com a legalidade, nem tudo o que é legal é ético e nem tudo o que é ético é legal.

·           Os comportamentos éticos devem nascer das convicções internas, quer sejam de natureza transcendente quer sejam de raiz humanista. Aqui pretende-se questionar os perigos de uma excessiva separação (Max Weber) entre ética de convicção e ética de responsabilidade. Importa perceber que o verdadeiro sentido da responsabilidade pressupõe a força serena das nossas convicções.

·          A ética é algo para ser vivido todos os dias, não um remédio ou uma solução para quando surge um problema ou um conflito.

 

Adaptado da intervenção de José Manuel Moreira “Ética: um compromisso”. José Manuel Moreira foi professor, durante 24 anos, na Faculdade de Economia do Porto, leccionando actualmente na Universidade de Aveiro.
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